Área do Cliente

Notícias

Inflação limita efeito de real mais fraco

A taxa de câmbio real efetiva atingiu em junho o maior patamar desde maio de 2009.

A desvalorização da taxa de câmbio em termos reais, descontada a inflação, frente às moedas dos principais parceiros comerciais do Brasil, já é maior do que em relação ao dólar. Dados do Banco Central mostram que a taxa de câmbio real efetiva, que corresponde a uma média da cotação da moeda brasileira em relação às divisas de 15 países ponderada pela participação desses no total das exportações brasileiras, acumula uma depreciação de 3,8% em junho em relação ao mesmo mês de 2012, contra uma desvalorização de 1,15% frente ao dólar em termos reais.

A taxa de câmbio real efetiva atingiu em junho o maior patamar desde maio de 2009. A tendência, segundo os economistas, é de uma depreciação maior em função da piora dos fundamentos e aumento do déficit em conta corrente.

Apesar da depreciação da taxa de câmbio real efetiva ser favorável ao aumento da competitividade, a inflação alta faz com que o Brasil tenha que ter uma desvalorização do câmbio maior em termos nominais para se tornar mais competitivo.

O real apresentava uma desvalorização de 8,47% em relação ao dólar em termos nominais no ano até junho, enquanto a inflação acumulada no período medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 3,15%.

A inflação alta limita o efeito da desvalorização do câmbio para a economia. Um levantamento do Banco de Compensações Internacionais (BIS) mostra que a desvalorização da taxa de câmbio real efetiva do Brasil no ano era de apenas 1,71%, abaixo de outros países emergentes que tiveram uma desvalorização nominal inferior ao real, como Chile e Peru. Como a inflação nesses países é mais baixa, o efeito da desvalorização do câmbio é refletido em termos reais, o que ajuda essas economia a ganhar mais competitividade.

O economista-chefe da MCM Consultores Associados, Fernando Genta, acredita que a taxa de câmbio real efetiva deve continuar se depreciando nos próximos meses. No cenário do economista, o dólar deve continuar se fortalecendo no mundo, movimento que será replicado no Brasil. Ao mesmo tempo, a inflação doméstica deve começar a moderar na leitura em 12 meses. O resultado disso - desvalorização da taxa de câmbio nominal combinada com a acomodação das leituras de preços - é um câmbio real mais depreciado.

O sócio da Tendências Nathan Blanche também espera uma depreciação maior da taxa de câmbio real efetiva dado que o déficit em conta corrente do Brasil deve ser maior neste ano, em US$ 75,7 bilhões, contra US$ 54,2 bilhões no ano passado. Na opiniã dele, para alcançar o ponto de equilíbrio baseado nos fundamentos, a taxa de câmbio nominal atual, em torno de R$ 2,25, deveria ter uma desvalorização de pelo menos mais 5%.

Já o economista para a América Latina do Standard Chartered, Italo Lombardi, vê uma valorização da taxa de câmbio real efetiva, prevendo um cenário de alívio no movimento de alta do dólar no curto prazo. Em relação à inflação, o economista ainda vê um cenário de pressão. "A inflação alta faz com que o Brasil perca competitividade, aumentando o custo de produção para os exportadores."

Para Genta, da MCM, a desvalorização da taxa de câmbio real efetiva vai ajudar as contas externas. Com base num modelo da consultoria e levando em conta o canal do comércio exterior, o economista prevê que, com uma desvalorização adicional de 10% da taxa de câmbio efetiva real, o volume de exportações poderia crescer 1,8% após um ano. "Esse nosso modelo já leva em conta a desaceleração da China, menores preços das commodities e o atual nível do câmbio." No entanto, Genta destaca que outros fatores podem limitar esse efeito do câmbio como a piora da percepção da qualidade da política e do crescimento econômico.

Para o economista da Rosenberg & Associados Rafael Bistafa, a depreciação da taxa de câmbio real estanca uma piora na competitividade da economia, mas ainda está "longe" de gerar benefícios concretos. "Pode haver melhora na competitividade pela taxa, mas se em outros países com pauta de exportação parecida com a nossa a taxa real cai mais, comparativamente você fica para trás."