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Inflação em alta até junho

Economistas estimam aumento de 7% no acumulado de 12 meses, independente de ações do governo.

A inflação acumulada em 12 meses deverá atingir alta de 7% em junho e persistir nesse patamar até agosto, bem distante do centro da meta de 4,5% estabelecida pelo governo. De acordo com o presidente do Conselho  Regional de Economia (Corecon-SP), Heron do Carmo, essa projeção deve se concretizar independente das ações de política monetária adotadas pelo Banco Central (BC) para tentar domar esse dragão. Seja por meio da alta da taxa básica de juros, a Selic, ou via medidas macroprudenciais de restrição à oferta de crédito e, consequentemente, de consumo. 

"A inflação no primeiro bimestre deveria ficar bem abaixo da apurada em igual período de 2010, o que não ocorreu. A previsão é que, de março a maio, os índices continuem pressionados principalmente pelo efeito da indexação no reajuste de tarifas públicas. Isso sem contar o reflexo de aumentos nos preços do algodão e etanol", disse Carmo, durante encontro com jornalistas realizado ontem no Corecon-SP, na capital paulista.

O economista observou ainda que – caso ocorra algum problema climático como, por exemplo, uma geada – a alta da inflação em 12 meses em agosto poderá ficar acima de 7%. "Além do mais, no Brasil, a inflação é sempre endógena. Ou seja, toda vez que há alguma elevação, os ajustes são sempre feitos para cima."

Segundo ele, diferente do que ocorreu em 2010, neste ano, a inflação não deverá ser pressionada por alimentos como feijão e carnes. Para se ter uma ideia, esse último item representa quase 10% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e que serve como balizador para o centro da meta inflacionária estipulado pelo governo.

"A inflação em 2011 é fruto do afrouxamento da política fiscal em 2010. Além disso, muitos itens continuam indexados", afirmou.

Carmo ponderou que após agosto, a inflação tende a se arrefecer. "Ao longo do ano, o avanço em 12 meses deve ser  algo em torno de 6%."

De acordo com o economista Antonio Corrêa de Lacerda, também presente à reunião do Corecon-SP, a inflação é um problema inegável e precisa ser combatido. Mas que não se restringe ao Brasil. "Grande parte dos países que adotam regime de metas inflacionárias estão com dificuldades para cumpri-las, a exemplo do Chile. É preciso promover ajustes graduais, sem choques, garantindo o crescimento da economia nacional."

Superaquecimento– O risco de superaquecimento da economia brasileira em 2011 está descartado, assim como da atividade global, segundo Lacerda. "A elevação dos preços internacionais do barril do petróleo, fruto dos problemas políticos no norte da África e Oriente Médio, para um patamar acima de US$ 100, deve persistir nos próximos 12 a 24 meses. A tragédia que aconteceu no Japão deve contribuir para corroborar esse movimento."  Por sua vez, os preços das outras commodities – metálicas e alimentícias – devem recuar, em sua opinião. "A elevação nas cotações do petróleo retrai a capacidade de renda dos países mais ricos."

O conselheiro do Corecon-SP, Manuel Enriquez Garcia, mostrou preocupação com o efeito negativo que o aumento dos juros traz para a economia: a valorização da moeda local, que deve continuar em torno de R$ 1,70 frente ao dólar.

Garcia, Lacerda e Carmo foram categóricos em defender que o controle da inflação, além de ações de política monetária, demanda um rigoroso ajuste nas contas públicas no sentido de cortar gastos com custeio e ampliar o uso de recursos para investimentos.